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Sindicarne - Goiás

Inseminação em tempo fixo

Quando se fala em Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), muitos produtores e até veterinários podem imaginar que se trata de um método caro, complexo e de difícil entendimento e aplicação. A técnica, no entanto, tem movimentado o dia a dia de fazendas e de grupos de pesquisa em reprodução. Motivo: além de ser acessível a qualquer criador – de pequenos a grandes fazendeiros -, permite inseminar o rebanho em horário predeterminado, diminuindo os gastos com o manejo dos animais e aumentando a produtividade.

Para se ter ideia, a aplicação da IATF custa entre R$ 16 e R$ 20 por animal sincronizado (gastos com hormônios) e o gasto por vaca gestante depende de uma série de fatores. A condição corporal dos animais é um parâmetro importante a ser observado, pois interfere na concepção. Vacas com melhor condição corporal apresentam maior taxa de concepção e menor custo por vaca gestante. Vacas com menor condição corporal resultam em menor taxa de concepção e maior custo. As qualidades do sêmen e do inseminador também têm que ser consideradas, pois qualquer falha diminui a concepção com aumento do custo por vaca gestante.

Com a IATF o produtor pode programar a inseminação. As vacas têm a ovulação induzida, com data marcada. Existem diferentes protocolos, e a escolha do protocolo e a resposta esperada dependem da raça, da idade, da condição corporal, do número de crias, da qualidade do sêmen e do inseminador.

Outra vantagem é que a técnica permite antecipar a parição e também aumentar o número de animais nascidos de IA, pois admite emprenhar mais cedo, por inseminação, sem a necessidade de verificar o cio (dificuldades ou falhas na detecção do cio limitam o aumento da IA convencional).

Se as vacas estão parindo por inseminação artificial, no momento desejado, a IATF fica menos recomendada. Mesmo assim o criador pode ganhar no manejo e na diminuição da mão de obra.

Concluindo, as vantagens da IATF são mais vacas gestantes por inseminação artificial, parindo quando o produtor desejar e com menor mão de obra. A desvantagem da IATF é quando não se tem a conclusão esperada. Deve-se ter muito critério para criar a expectativa de resultado, lembrando que, se ocorrer falha em uma das variáveis – vaca, sêmen, inseminador ou protocolo -, o rendimento será menor que o esperado.

Ao adotar a técnica, o produtor precisa ter em mente que os resultados virão em até dois anos. Como o preço do bezerro hoje não é dos melhores, o fazendeiro muitas vezes fica desestimulado com a necessidade do investimento inicial. Mas é necessário, no entanto, pensar na produtividade do rebanho a médio prazo.

Um erro comum que se observa é sincronizar as vacas no fim da estação de monta. Devemos tomar tal medida no início, e não no final. Vale ficar atento também com os erros cometidos na propriedade que podem comprometer os resultados do protocolo: vacas com condição corporal inadequada, sêmen de fertilidade não comprovada e equipe não estimulada e treinada. Ao ser bem aplicada, a IATF tem como principal resultado o aumento de desfrute, ou seja, da produtividade da fazenda.


José Luiz Moraes Vasconcelos – Médico veterinário e professor da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Botucatu


Você pergunta e a Alta responde – IATF

A IATF é uma ferramenta de reprodução em extrema evolução no Brasil. Gostaria de saber sobre o crescimento dessa técnica, os cuidados que devem ser tomados, o avanço do material genético e, finalmente, sobre a viabilidade do uso da técnica (Ricardo Alves – Fazenda Rancho Grande).

Resposta Alta:

Como analisar a evolução da IATF no Brasil? É um mercado em potencial?

O mercado de sêmen apresenta grande evolução e crescimento, somente nos últimos 25 anos. Num rebanho total de aproximadamente 200 milhões de cabeças, são mais de 50 milhões de vacas servidas por meio da monta natural, sete milhões por inseminação, sendo que destas somente 4,5 a 5 milhões são inseminadas pelo uso da IATF.

 Quais os principais cuidados que se deve ter na aplicação de protocolos de IATF? Dentro desse contexto, como analisar a questão da mão de obra? O Brasil dispõe de qualidade técnica nesse sentido? Dentro disso, qual tem sido o papel das empresas de genética?

O primeiro passo é estruturar a propriedade, capacitar e treinar a mão de obra que irá conduzir o rebanho no dia a dia da propriedade, pois são eles os principais responsáveis pelo resultado alcançado. É preciso avaliar cuidadosamente o manejo nutricional, sanitário e reprodutivo da propriedade antes da implantação do projeto e das técnicas de inseminação convencional ou da inseminação artificial em tempo fixo. A mão de obra precisa ser estimulada e recompensada pelos ganhos em produtividade e metas atingidas. Os principais cuidados antes de iniciar um projeto de IA e/ou IATF são dividir os lotes de fêmeas em primíparas e multíparas, e em propriedades com grande volume de gado recomenda-se trabalhar com lotes de 100 a 150 animais. As fêmeas que vão entrar no programa de sincronização precisam estar em boas condições fisiológicas, livre de doenças – como brucelose e leptospirose, principalmente – e apresentar escore corporal desejável (2,5 a 3), numa escala de 1 a 5. Desta forma aumentam-se as chances de bons índices de concepção e consequentemente maior retorno sobre o investimento. O País tem avançado muito na formação e na qualificação de pessoal, e a Alta Genetics, há 18 anos, investe intensamente em programas e cursos de Inseminação Artificial em prol do desenvolvimento do melhoramento genético e da utilização consciente da Inseminação Artificial em larga escala. Mais recentemente, com o crescimento da IATF e lançamento de produtos para sincronização da ovulação, as indústrias farmacêuticas iniciaram trabalhos de treinamento e palestras de orientação para utilização da técnica, minimizando sobremaneira os riscos de insucesso após a implantação dos programas.

Os resultados da técnica dependem de uma série de elementos, como a própria mão de obra dos profissionais, fatores externos e a qualidade do sêmen, entre outros, por exemplo. Dentro disso, qual a importância do material genético nos resultados da IATF? O quanto ele corresponde no sucesso da técnica?

Conforme mencionado anteriormente, são inúmeras variáveis envolvidas no processo e estas podem influenciar positivamente ou negativamente o programa de IATF ou mesmo da IA convencional. O sucesso está diretamente ligado ao manejo nutricional, sanitário, à mão de obra qualificada e eficiente e à utilização de sêmen de qualidade, um componente essencial dentro do processo e um dos pontos fortes da Alta Genetics, que prioriza a comercialização de touros provados de alto desempenho e fertilidade. Se a técnica for bem conduzida, os benefícios são inúmeros. Podemos citar a redução do intervalo entre partos, o melhoramento genético, ganho em eficiência reprodutiva, concentração de nascimentos e padronização de bezerros. Os produtos frutos da inseminação artificial são superiores em qualidade e o mercado está à procura de animais precoces e mais produtivos.

E como está a questão dos custos? A IATF está acessível para propriedades de todos os tamanhos? Qual seria o custo, em média, de uma vaca protocolada?

Atualmente a técnica é acessível ao pequeno e médio produtores, um protocolo base de IATF custa em média R$ 15,00, e se utilizarmos um sêmen comercial ao preço médio de R$ 14,00, o custo total por protocolo (sem a utilização de ECG) fica em torno de R$ 29,00/vaca (preços de 2011 quando esse questionário foi publicado). Temos que contabilizar o ganho genético através da utilização de touros melhoradores, provados e avaliados por programas de melhoramento genético, e nem sempre esta conta é realizada.

A boa pastagem faz parte dos protocolos do IATF

A boa pastagem faz parte dos protocolos do IATF

Por fim, o que temos de novidade no Brasil quando o assunto é IATF? O que está em Alta?

As empresas buscam eficiência máxima na produção de terapêuticos para sincronização da ovulação, a qualidade é fator fundamental e o mercado cada vez mais exigente. Da mesma maneira, a Alta trabalha sério com o objetivo único de democratizar a utilização de touros superiores, proporcionando ao mercado e ao pecuarista genética de altíssima qualidade por um valor justo. Existem, atualmente, inúmeros estudos voltados à IATF e à TETF (Transferência de Embriões em Tempo Fixo. As técnicas são aperfeiçoadas a cada dia com o propósito de otimizá-las e reduzir o número de manejo (deslocamento das fêmeas ao curral). Tem-se buscado protocolos de fácil aplicação com apenas três manejos. Isso mostra a evolução da técnica e o quanto temos para crescer e desenvolver, um verdadeiro oceano pela frente, considerando que no Brasil somente 9% das fêmeas em idade reprodutiva são inseminadas.

Gabriel Sandoval – Gerente de Produtos Nelore e Nelore Mocho
Alta Genetics (Matéria adaptada para publicação na revista SGPA)

Dados atuais sobre a IATF no Centro-Oeste

Nossa reportagem conversou sobre o assunto com o especialista e prestador de serviços, há 29 anos, Gilmar José Machado, da ABS/Pecplan. Segundo ele, hoje 67% de todo o sêmen vendido no Brasil pelas empresas especializadas é destinado à Inseminação Artificial por Tempo Fixo, que teve uma aceleração de vendas a partir de 2002, embora este sistema tenha sido implantado no Brasil no começo dos anos 90. Para se ter ideia do avanço da técnica no Brasil, em 2002, das 7 milhões de doses de sêmen vendidas para a inseminação artificial, apenas 100 mil eram para o IATF.

O sistema no País ganha terreno a cada ano, pois os pecuaristas, independentemente do volume de gado, estão reconhecendo uma forma de padronização e de melhoramento genético do rebanho, tanto para corte quanto para leite. O maior volume de inseminação por sistema está concentrado em três estados: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

O preço do trabalho envolvendo químicos para aplicação nos animais nos chamados protocolos para induzir o cio e o sêmen fica na faixa de R$ 30,00 por cabeça, não computando a mão de obra.

Segundo o especialista, se as fêmeas estiverem com o escore corporal em boas condições, além da saúde, podem chegar a 50% de prenhes e, com o tempo, as vacas vão tendo o cio adiantado, aumentando também a taxa de nascimento de bezerros. O restante das vacas vazias pode ser reorganizado para os protocolos. O interessante é que no processo de IATF os touros não são dispensados, a não ser quando do início das aplicações dos hormônios.

Gilmar: “o sucesso do IATF depende também da disciplina do pecuarista na parte técnica”

Gilmar: “o sucesso do IATF depende também da disciplina do pecuarista na parte técnica”

Recomendações

O profissional explicou que quando a empresa é contratada para esse serviço, ela repassa ao cliente algumas recomendações fundamentais nos programas de IATF que obedecem às seguintes ordens:

  1. Os animais deverão estar numerados para a emissão de relatórios; deverão estar numa escala de no mínimo 2,5 de escore numa tabela de 1 a 5 e ganhando peso; estar em pastos com disponibilidade de capim;
  2. Obedecer à recomendação de 20 dias antes e 20 dias depois não usar vacinas, pour on, mosquicidas, etc; utilizar as vacinas reprodutivas para melhorar os índices, evitar absorção e aborto;
  3. Trazer e levar devagar os lotes para o curral; evitar estresse dos animais próximos ao curral de execução do programa de IATF, como ferrões, choques, gritos; colocar os animais próximos ao curral de execução do IATF; evitar grandes deslocamentos também antes e após a inseminação; colocar os lotes que estão em programas em lotes longe dos touros; seguir o protocolo reprodutivo estabelecido para a fazenda; protocolo de acordo com a categoria animal;
  4. Fornecer sal mineral de qualidade para reprodução, que deverá estar disponível antes, durante e após o programa;
  5. Seguir rigorosamente o protocolo obedecendo dia, horário e dosagem dos hormônios; inseminador treinado com sêmen de qualidade.