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Sindicarne - Goiás

O Agronegócio na passarela do samba-enredo sem noção

Dizem que a arte não precisa obedecer regras. Isso é verdade. Desde que ela busque inspiração nas coisas abstratas, seja na música, pintura, escultura, literatura e em tudo mais que pode ser feito para enaltecê-la em sua mais correta acepção.

Quando queremos produzir arte, buscando inspiração em coisas concretas, carregamos na alma o dever e o compromisso de sermos o mais fiel possível quando referirmos ao tema escolhido.

Não foi o que aconteceu com o samba-enredo que a escola de samba carioca Imperatriz Leopoldinense encomendou visando o desfile desse ano na Marquês de Sapucaí, concorrendo ao título máximo da maior festa popular do Planeta, o carnaval da Cidade Maravilhosa.

O samba, cujo título é Xingu, o clamor da floresta desfilará com fantasias em variadas alas com os temas Fazendeiros e seus agrotóxicos; Doenças e pragas e Olhos da cobiça. A proposição critica, aos olhos do mundo, o Agronegócio brasileiro como se esse fosse o empreendimento  mais nefasto, e,usado para exterminar as populações urbanas e indígenas, os rios, bichos, florestas enfim, o meio ambiente de forma generalizada.

Não somos contrários ao patrulhamento e a consequente denúncia feita por qualquer entidade que luta a favor do meio ambiente. Ao contrário, defendemos sim as discussões procedentes desde que com a necessária evidência dos fatos. Não é acusando um País continente -futuro celeiro do mundo – de ser negligente e cruel para com o meio ambiente que uma escola de samba vai contribuir com a cultura, ao tentar retratar de forma equivocada a verdadeira história do tema escolhido. É o caso do samba-enredo Xingu, o Clamor da Floresta que foge às regras dos regimentos que regulam o carnaval no palco internacional da Marquês de Sapucaí os quais buscam sempre promover a história cultural do Brasil.

Esquecem ou não sabem os sambistas que o Brasil só não entrou em crise mais grave, ano passado, devido ao mercado abarcado pelo Agronegócio onde a produção de grãos (em 2017 estima-se 213 milhões de toneladas) ocupa apenas 7,5% da área total do Brasil, menor que os 11,6% (quase 100 milhões de hectares) destinados aos indígenas. Com essa observação não estamos diminuindo a importância das questões que envolvem os nativos. Claro que a Nação deve preservar suas reservas, também a história e tradições, no entanto, não se pode culpar o Agronegócio de forma generalizada por alguns desvios dentro do tema meio ambiente.

Outro dado interessante: há 20 anos, a população indígena era de 294 mil indivíduos. Atualmente, este censo já alcança a casa dos 734 mil nativos, segundo dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Assinalam os estudiosos e pesquisadores que, em se tratando de todas as etnias existentes no Brasil, a dos índios foi a que mais cresceu em duas décadas. Se ainda existem políticas adversas aos interesses desses povos, não compete ao Agronegócio analisá-las.

Sobre a preservação ambiental, o Brasil tem 65% de cobertura florestal, ou seja, 519 milhões de hectares, dados oficiais da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). A França, um país europeu que aprecia criticar o Brasil e que sediou a penúltima Conferência Internacional Sobre Clima, (COP-21 em 2015), tem apenas 31% de cobertura florestal em todo seu território. O Marrocos, que sediou, em Marrakesch, a mesma Conferência, ano passado, tem apenas 2% de seu território coberto por florestas.

A respeito dos defensivos agrícolas utilizados nas lavouras para combater as pragas, os dados oficiais trazem os seguintes números: o consumo médio brasileiro é de 5 kg do produto, por hectare, bem abaixo do nível observado na Holanda (20,8 kg); no Japão (17,5 kg); e Bélgica com (12 kg), países estes que costumeiramente criticam o Brasil sobre mais essa questão.

Estudo realizado por um dos grupos líderes mundiais no segmento de informação estratégica especializada em Agronegócio, a Kleffmann, mostra que, enquanto o uso de defensivos, por unidade produzida, cresce 120% na China, e, 47% na Argentina, desde 2004, no Brasil ele decresce 3%. Especialistas afirmam que, se os defensivos não fossem utilizados, a produção agrícola sofreria uma redução da ordem de 50% com o consequente desmatamento e mais elevação nos preços dos alimentos.

É claro que no caso da Pecuária de Corte e Leite temos que evoluir um pouco mais, diminuindo a área de suporte, aumentando o número de cabeças por hectare. Entre 1990 aos dias atuais, a área ocupada com pastagens caiu de 188 milhões de hectares para 167 milhões, ao mesmo tempo em que o rebanho aumentou de 147 milhões para 214 milhões de cabeças, sendo o maior do mundo. Nos últimos dois anos, a produtividade chegou a 60 kg de carne/hectare, ao crescer 143%. Se os 10 milhões de toneladas de carcaça, em 2015, fossem produzidos com a tecnologia do início da década de 1990, a pecuária não estaria usando 167 milhões de hectares, mas sim 400 milhões. Os mesmos dados servem para a Agricultura que triplicou sua produção nos mesmos patamares, entre 5% a 7,5% da área agricultável, desenvolvendo as mais modernas tecnologias de produção.

Em síntese, nenhum País no mundo cresceu mais que o Brasil em produtividade e conservação ambiental nos últimos 25 anos. É pena que muitos brasileiros não o saibam, ou se sabem fingem não enxergar, saboreando muita feijoada e churrasco regados igualmente por muita cerveja e cachaça advindos do Agronegócio e se inspirando,infelizmente, nos morros do Rio de Janeiro, em algum samba-enredo  sem noção.

Jornalista Luiz Carlos Rodrigues, assessoria de Comunicação, Fundepec-Goiás