Top

Sindicarne - Goiás

Terceira idade

Desde que o mundo é mundo existem os grupos. Cada um com sua “tribo”, como alguns sociólogos gostam de chamar. Hoje está na moda os Centros de Convivência, para que “tribos” busquem uma melhor maneira de se interagir com o resto da sociedade.

As pessoas, na chamada terceira idade, procuram, em sua maioria, os núcleos, compostos de viúvos, viúvas, descasados e descasadas, beatos e solteironas, além de outros curiosos.

Certa vez, um fazendeiro sistemático de nome Zé Trajano ficou viúvo e não quis saber de casar-se novamente. O tempo foi passando e os amigos o aconselhando a arranjar uma nova companheira. Até os filhos, de vez em quando, davam um toque para ver se o pai animava a dar uma saída, enfim, arranjar alguém.

A maioria dos conselhos era no sentido de que Zé Trajano procurasse na cidade um dos Centros de Convivência da terceira idade. Explicaram a ele como era o ambiente. Diziam que a grande maioria dos frequentadores era formada por pessoas com certa idade, não havia bagunça, bebedeira, fofoca, enfim, lugar de gente séria, que estava ali à procura de um relacionamento igualmente sério.

De tantos conselhos, Zé Trajano resolveu averiguar. Certo dia arrumou-se, colocou a melhor roupa e até perfume, coisa que não era acostumado a fazer. Com o incentivo de um dos filhos, acabou cedendo e saiu com alguns amigos para a cidade.

Uma vez no Centro de Convivência, toma um trago social aqui, outro ali, uma cerveja social aqui, outra ali, e pronto: Zé Trajano resolveu chamar uma senhora para dançar. Não era lá tão bonita, mas tinha algum traquejo. Muito bem vestida e por algumas vezes já tinha dado olhares insinuantes ao rumo do Zé.

Meio sem jeito, ele parecia um adolescente quando chama a mocinha pra dançar pela primeira vez. A dança mal começou, a dama falou na lata do Zé:

– Sinto muito. Não vai dá pra continuá a dança não…

Zé Trajano:

– O que foi? Eu num fiz nada…

A dama:

– Eu sei qui o sinhô num fêis nada. O pobrema é esse prifume. É muito injuativo. O memo qui meu marido usava antes da gente se desquitá e qui eu detestava…

Zé Trajano, que tinha o estopim curto e não levava desaforo pra casa, soltou a dama no meio do salão, dizendo:

– Intão nóis impatô, mas cuma diferença: se ocê num tá gostano do meu perfume, eu também num tô gostano do seu bafo de onça, sua capivara…

A dama, percebendo que tinha dado uma mancada, quis ser engraçada, tentando amenizar aquela situação, e perguntou:

– Afinal, eu sô onça ou capivara?

Zé Trajano:

– Tem mais bicho na sua carcaça sua jararaca, cara de capivara, corpo de vaca e trote de égua, purquê pisou tamém no meu pé…

Luiz Carlos Rodrigues