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Sindicarne - Goiás

Margem da indústria de aves segue firme apesar de safra menor de milho

 

Cereal usado na ração animal é o principal componente dos custos do setor, e oferta se mantém elevada mesmo com quebra da produção. Neste cenário de grãos que temos hoje, o processo de margens do setor (de carnes) também melhora, diz analista da XP

Os frigoríficos de aves desfrutam de margens melhores, apesar de uma safra menor de milho, principal insumo da ração animal. A razão é que a queda na produção do cereal na safra de verão 2023/24 e a expectativa de recuo também na segunda safra ainda não conseguiram elevar os preços do milho de maneira significativa.

 A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta colheita de 23,6 milhões de toneladas para o milho na primeira safra, volume 13,8% menor que o do ciclo anterior, após impactos do El Niño durante o plantio e desenvolvimento da cultura. A produção total do cereal deve ter um recuo na mesma intensidade, para 113,7 milhões de toneladas, com reduções de área e produtividade.

 Entretanto, a Aurora, por exemplo, não está trabalhando com a hipótese de escassez do cereal, mesmo neste cenário desenhado para a safra. “Os estoques da Aurora Coop estão repletos. A oferta de milho no mercado está normal”, disse à reportagem uma fonte próxima à cooperativa, que é uma das maiores produtoras de aves e suínos do país. O indicador de preços do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para o milho caiu 9,9% em janeiro.

 O desempenho foi influenciado pelas cotações externas e por compradores à espera de quedas mais intensas, já que a colheita de verão avança no Sul e Sudeste e eleva a oferta em alguma medida. Há também estoques remanescentes no Centro-Oeste. Em fevereiro, os preços vêm reagindo, mas limitados pela demanda fraca, enquanto a indústria prioriza justamente a utilização de estoques, avaliam pesquisadores do Cepea. “A safra ainda será grande apesar das quedas. 

Neste cenário de grãos que temos hoje, o processo de margens do setor (de carnes) também melhora”, acrescentou Leonardo Alencar, head de Agro, Alimentos e Bebidas da XP. A XP projeta margem Ebitda ajustada de 11,1% para a BRF em 2024, versus 8,1% no ano anterior. A Seara, da JBS, que concorre diretamente com a BRF na área de aves e suínos, tem margem estimada em 9,2% para este ano, contra 6,8% em 2023. A margem dos frigoríficos também foi favorecida em janeiro por um recuo da ordem de 8% nos preços do farelo de soja, outro ingrediente importante para a alimentação na avicultura, em Estados como Paraná e Santa Catarina, conforme dados compilados pelo Itaú BBA. Para Fernando Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado, ainda é cedo para estimar se o preço do milho vai avançar nos próximos meses. “Apesar de termos uma safrinha menor, ainda vamos colher 89 milhões de toneladas, de acordo com o que está se desenhando. Isso não significa que os preços vão subir agressivamente”, afirmou.

 Mas, na visão de Iglesias, a indústria de carnes local precisará ser mais proativa na aquisição dos grãos usados na ração, uma vez que deve haver maior concorrência com exportadores de milho. “Se a trading estiver pagando R$ 60 por saca no porto, a indústria vai ter que pagar preços similares para conseguir manter esse milho aqui. Mas, mesmo assim, não estão previstas altas explosivas”, enfatizou. Outro fator que pode jogar a favor dos custos dos frigoríficos é a cotação do cereal na Bolsa de Chicago, que está pressionada e ainda depende da safra dos Estados Unidos para a formação dos preços futuros. “Tendo uma safra americana de boa proporção, é difícil que haja elevação dos prêmios no Brasil”. 

Ademais, o alojamento de pintinhos de um dia tem sido feito de forma controlada pelas granjas comerciais, visando a adequação entre a oferta e a demanda por aves, ressaltou Iglesias, da Safras & Mercado. Isso também beneficia as margens. O Itaú BBA considera que um ritmo de produção adequado é fundamental para o equilíbrio das margens dos frigoríficos ao longo do ano, sobretudo em um contexto em que a demanda externa pelo frango brasileiro é vasta, mas os preços de exportação estão em queda.

Valor Econômico